sexta-feira, 13 de maio de 2011

Brasil do beijo lésbico não é o mesmo do Brasil da bancada evangélica

Mas tá um trem de doido, êta confusão
Parece natural andar na contramão.
Tão vendendo ingresso
Pra ver nego morrer no osso
Vou fechar a janela
Pra ver se não ouço
As mazelas dos outros.
(No Braseiro. Pedro Luís)

Na quinta-feira, dia 12 de maio de 2011, dois fatos pontuaram ações bem diferentes no mesmo Brasil. Durante o dia, novamente a votação, no Congresso, da Lei contra a homofobia (PLC 122/2006) foi adiada, por conta da arruaça protagonizada pela bancada evangélica de parlamentares. À noite, por volta das 22h15, foi ao ar, enfim, o primeiro beijo (ou melhor, beijaço, de 40 segundos!!!) homossexual (lésbico) da teledramaturgia brasileira. Me parece que a novela não é grande coisa, no entanto é uma das mais comentadas na internet por causa das cenas de tortura e, obviamente, do esperado beijo lésbico que, dessa vez, de fato, se concretizou. O lacre foi rompido e o autor da novela já adiantou que, dependendo do andar da carruagem, outros beijos virão e até cenas quentes entre as duas poderão ocorrer.
           Agora nos resta esperar pelo beijo gay (sim, entre 2 homens). Esse sim deve ser bem aguardado, uma vez que, apesar de o gay ter mais visibilidade que a lésbica na sociedade, a homossexualidade masculina é mais rechaçada, mais repugnada que a feminina. Sabemos que muitos homens heterossexuais gostam e até se excitam só pelo fato de ver duas mulheres se beijando, se roçando. Cenas de sexo entre mulheres em vídeos pornográficos destinados ao público heterossexual são mais comuns do que se pensa. E isso não é considerado homossexualidade (???). Algumas mulheres que protagonizam tais cenas se intitulam bi-curiosa (então tá!).
          De qualquer forma, esse beijo lésbico no canal do Sílvio Santos é pra se comemorar sim. O beijo aconteceu e o mundo não se acabou. Ninguém vai mudar seu comportamento, sua sexualidade pelo fato de ter visto duas personagens se beijando na TV. Meu desejo é que esse tipo de cena seja mais constante e tratado de forma natural. Da mesma maneira que um homem e uma mulher se beijam, isso também pode acontecer com 2 homens ou com 2 mulheres. Isso faz parte de um processo lento de desconstrução de estereótipos e de hipocrisia. Esse negócio de dizer que aceita, que apoia, mas que não pode mostrar, porque fulano ou sicrano não está preparado para ver, é pura demagogia. É a mesma demagogia utilizada pelos deputados da bancada evangélica que impedem todo e qualquer tipo de tentativa de lei que almeje proporcionar direitos de cidadania aos/às LGBT.
            Estamos em 2011 e houve muitos projetos pró-LGBT no poder Legislativo que foram simplesmente engavetados. Até o momento, as conquistas garantidas foram galgadas a partir do judiciário (como a decisão do STF sobre união civil estável homossexual, que aconteceu a semana passada). Pois é, enquanto o judiciário se atualiza e começa a colocar na prática ações inclusivas e democráticas, o poder legislativo esbarra em questões religiosas como forma de justificar a negação de direitos para boa parcela da população.
            Dessa vez, liderados por Jair Bolsonaro (novamente ele!), a bancada evangélica alega que a lei que criminaliza a homofobia fere a liberdade de expressão dos templos religiosos. O deputado “distintíssimo” Magno Malta fala em “imperialismo homossexual”. É muita balela. É um discurso fascista que tenta confundir a população e que fere o princípio básico da nação: o Brasil é um país laico. Não se pode pensar em leis que sigam essa ou aquela religião. Temos que pensar no bem de tod@s, no bem coletivo. Liberdade de expressão não pode ser confundida com direito a discriminar, a permitir intolerância. E que imperialismo homossexual é esse a que o “digníssimo” deputado se refere? Punir a violência e a discriminação é um mecanismo para se preservar a dignidade e o respeito da minoria oprimida.
       Essa lógica capitalista de que para um ser incluído o outro deve ser excluído é um pensamento mesquinho e ditatorial. Em outras palavras: se eu defendo o direito dos negros, não quer dizer que eu esteja recriminando os brancos. O mesmo vale para homo e heterossexuais e assim por diante. Temos que pensar no bem de tod@s, independente do credo, da etnia, da orientação sexual ou de gênero e da classe social de cada um. É isso que prega a Constituição Federal de 1988, mas que, na prática, nada acontece.
           Gradualmente as coisas estão mudando e melhorando. Espero que um dia o Brasil do beijo lésbico da novela se encontre com o Brasil do Legislativo. Todos nós queremos viver com respeito e dignidade. Felicidade é bom e eu quero paz, justiça, alegria!
        Na foto, o delicioso beijo entre Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre) na novela “Amor e revolução”. Fonte da imagem: http://novohamburgo.org/site/noticias/cultura/entretenimento-cultura/2011/05/13/fim-do-preconceito-mulheres-protagonizam-primeiro-beijo-gay-da-tv-brasileira/

Um comentário:

  1. Bom, o beijo lésbico foi muito comentado sim e um grande avanço pelo menos, nos meios de comunicação.
    Uma coisa que eu sempre convivi, foi com evangélicos, eles falam tanto em amar os homossexuais como eu, mas que ficam dizendo não as leis a favor de nós homossexuais.

    O Brasil só vai mudar quando nossos governantes não terem medo da igreja, e fazerem o que são pagos p/ fazer, ou seja, assegurar os direitos de todos os brasileiros.

    È isso que eu penso.

    abraço

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