quarta-feira, 20 de abril de 2011

Cartunista Laerte e o mundo crossdresser

Certamente quem é antenad@ e acompanha as notícias do dia-a-dia soube da “saída do armário” do cartunista Laerte.  Ele, que é um profissional super conceituado, assumiu sua condição (se é que se pode falar assim) de crossdresser recentemente. Por se tratar de figura renomada, seu ato rendeu páginas e páginas de matérias, reportagens etc e tal. Muita gente o apoiou, muita gente o rechaçou.
Mas o que é interessante analisar é o fato de um homem público assumir essa condição abertamente, posar para fotos devidamente “montada”, como se ele estivesse escancarando para a sociedade seu estilo de vida. Tirando a prática crossdressing do domínio da clandestinidade e tornando-a visível, doa a quem doer. Aplaudo de pé a coragem e a determinação de Laerte. No mundo machista e homofóbico (sim, homofóbico!) em que vivemos, não deve ter sido fácil ele assumir essa condição para a sua família, amigos, enfim, a todos. Mas são justamente essas pessoas corajosas que abrem caminho para um mundo sem preconceitos e de mais respeito. Certamente, o fato de Laerte assumir ser cd, possibilitou que muita gente, de alguma forma, entrasse em contato com esse universo e tomasse conhecimento de que as fronteiras que separam ser homem de ser mulher são muito mais tênues e obtusas do que imagina nossa vã filosofia. Um homem heterossexual, casado, que tinha filho e tudo (seu filho foi morto ano passado, na cidade de Osasco, lembram?), já com seus quase 60 anos de vida, passa a usar roupas femininas. Corte de cabelo, meia calça, vestidos, sandálias. E não somente no refúgio do lar, mas em todas as suas práticas sociais!
É o ápice de uma vida que não deve nada a ninguém, que faz o que sente bem e que busca uma existência de sentidos para si mesmo. Em uma de suas declarações ele disse que não é homem, nem mulher. Então muitos perguntam: “ele é o que, afinal?”. E eu respondo (risos): a quem isso interessa? A sociedade nos obriga a fazer escolhas, a nos encaixotar, a nos rotular. Ou isso, ou aquilo. Ou verde ou amarelo. Ou palmeiras ou Corinthians. Ou branco ou negro. Ou hetero ou homo. Ou... ou... Sendo que na verdade somos muito mais complexos do que essas binaridades, do que esses caixotes que a sociedade tenta constantemente nos enclausurar. Somos tudo e mais um pouco. Parabéns, Laerte! Vc é uma PESSOA de atitude. Quisera eu ter a sua coragem. Estrelas como vc brilham na eternidade! Na foto, o cartunista Laerte após assumir ser crossdresser. Fonte da imagem: www.folha.com.br

quarta-feira, 6 de abril de 2011

"Quem me vê assim cantando, não sabe nada de mim..."

Ser crossdresser é o que? Uma orientação? Uma condição? Um estilo de vida?
Conheço muitos gays que, na infância, gostavam de usar, às escondidas, roupas femininas da mãe, da irmã. Enchiam os lábios de batom e/ou passeavam pela casa de salto alto. No entanto, na fase adulta, nem todos virariam crossdresser ou travesti. Acredito que ultrapassar os limites de gênero (de ser homem e de ser mulher) é bastante excitante e provocador. Tanto é que ser crossdresser não quer dizer necessariamente ser homo ou heterossexual.  Há muitos casos de cds heterossexuais, da mesma forma que há cds bi e homossexuais. Isto quer dizer que brincar com a masculinidade e com a feminilidade transcende o sexo.
Eu mesma, ao contrário de muitas outras cds, nunca tive, na infância, vontade de me vestir de mulher. Minha vida sexual começou aos 16 anos, com um ex-vizinho meu. Porém, a primeira vez que usei uma calcinha já tinha uns 23 anos. Foi aí que tudo começou...
Por curiosidade, certo dia, entrei na sala de bate papo de travestis da UOL. Isso remonta ao início dos anos 2000. Nem havia sala específica de crossdresser, como já existe atualmente. Pois bem, teclei com várias pessoas, vários rapazes. Com um deles mantivemos contato e nos encontramos num domingo à tarde. Ele queria que eu me vestisse de mulher, mas não tinha roupas para isso. O que fazer?? Pra variar, peguei escondido algumas roupas da minha irmã e lá fui eu ao encontro do rapaz. Fomos a um motel, e eu me montei pra ele... quer dizer... apenas coloquei uma calcinha, vestido e uma sandália... foi o suficiente para passarmos uma tarde deliciosa juntos. Foi meu debut como crossdresser, digamos.
Nos encontramos outras vezes, sempre no mesmo esquema. Algum tempo depois, comecei a namorar um mecânico que morava próximo à minha casa que também pedia que eu me “montasse”para ele. E assim foi. Por coincidência ou não, acabei tendo namorados que curtiam essa fantasia. Que tinham o desejo de possuir (digamos...) um homem vestido de mulher.
Assim, talvez por perceber a demanda a esse tipo de fantasia, e também por começar a gostar disso. Acabei, aos poucos, sendo frequentadora assídua das salas de bate papo de cds. É claro que essa descoberta veio aos poucos. Vem sem a gente saber, e aos poucos essa identidade vai se formando na gente.
É uma descoberta silenciosa e solitária. Como ser crossdresser normalmente fica restrito às 4 paredes da casa, é mais difícil de socializar tal identidade, a não ser em conversas virtuais, que são importantes, mas muito superficiais.
Então, como aprender a se montar? Maquiagem? Cabelo? Roupas? Uma coisa é vc, enquanto menino, colocar uma calcinha, ou um vestidinho pra agradar seu namorado ou parceiro. Outra coisa é você, enquanto crossdresser, se montar. Digamos que a exigência é muito maior.
Quando, na segunda metade dos anos 2000 eu me assumi crossdresser, e fui à 25 de março comprar peruca, make e roupas (kkkk), não imaginava que montar um belo look exigia uma sensibilidade que, na época, não tinha. Ao olhar minhas fotos dessa época, quase tenho colapso... que peruca era aquela?? Batom horroroso! Roupinha da vovó em que nada combinava com nada!
Mas é assim mesmo! A aprendizagem vem aos poucos. Com o tempo, vamos percebendo e conhecendo o corpo, aprendendo a fazer uma maquiagem adequada que valorize o rosto, uma peruca tbm adequada à tez e ao todo, que deixe a gente bonita.
Afinal, independentemente da orientação sexual de uma crossdresser ou do que motivou a ter essa identidade, o que importa é estar bem consigo e com seu corpo. Olhar no espelho e se sentir bonita, se sentir bem interiormente. Até porque, quem me vê assim cantando, não sabe nada de mim... 
Na foto, depois de tantas "experimentações", meu look atual. "Dentro de mim, mora um anjo..."