domingo, 6 de novembro de 2011

Desabafo

Querid@s, estou de volta ao blog! Depois de um hiato de 3 meses, volto a escrever e a manter contato com meu pequeno, mas seleto grupo de seguidor@s.
Explico porque fiquei tanto tempo sem escrever: o segundo semestre me trouxe uma carga de trabalho grande e exaustiva. Sem contar as intermináveis viagens que tenho feito a trabalho. Viagens ao interior do Brasil. Um Brasil diferente, contundente, distante, lindo, mas, muitas vezes, cruel.
A semana passada, em uma cidade do Nordeste, fui a um cabeleireiro para hidratar meu cabelo. Enquanto o profissional fazia seu trabalho, entrou no salão um homem, bonito, por sinal, e ficou papeando com os dois cabeleireiros que estavam no recinto. Conversava com o que cuidava de meu cabelo, e com o outro, que estava sem fazer nada. Juro para vocês que não tenho coragem de reproduzir o teor da conversa. Uma conversa atroz, de baixo calão que, infelizmente, acabei ouvindo. O homem falava em alto e bom som de suas orgias com meninas, ou melhor, com crianças, algumas de 12 anos de idade que ele e seus amigos organizavam. Em certo momento, ele sacou do bolso um celular e mostrava a um dos cabeleireiros cenas de sexo explícito gravadas com as menores de idade, demonstrando, sadicamente, ar de satisfação e contentamento. Ele se vangloriava de traçar não sei quantas “menininhas” em uma só noite. E a reação dos seus interlocutores correspondia a essa satisfação. Via-se nos olhos dos 2 cabeleireiros o jargão: “esse cara é foda!”.
Essa foi a essência do papo dentro de um salão de beleza. Não contei nem sequer 1% das atrocidades que ouvi, porque não tenho coragem. Assim que o profissional terminou a hidratação, paguei o serviço, fui embora, e eles continuaram a conversa da forma mais prosaica possível.
Voltei ao hotel, decepcionada, chateada com a crueldade do ser humano. E cheguei até a colocar em xeque o meu próprio trabalho. Leio, pesquiso, dou curso, palestra sobre sexualidade, mas creio que meu trabalho (e de outros profissionais) está inserido no mais profundo vácuo. Será que meu discurso ecoa em alguém? Será que a ciência pode realmente mudar o comportamento das pessoas?
Ao presenciar aquele cara falando tranquilamente e de forma soberba sobre suas práticas pedófilas, sem problema ou pudor algum, isso me fez pensar que, de fato, o “buraco é mais embaixo”. A pobreza do Brasil ajuda nessa degradação. Sabemos que nos rincões do norte/nordeste as próprias mães “vendem” suas filhas por meia dúzia de laranjas. No fundo, todos sabemos, mas ouvir da boca de pessoas que praticam isso, se vangloriam do ato, e, ainda por cima, se dizem (e são considerados) “machos” é muito doído, ainda mais para quem trabalha com sexualidade, feito eu.
Pedofilia que não para de crescer, casos de homofobia no país todo, aumento de DST's na população. Falta de respeito consigo e com os outros. Que Brasil é esse? Há muito mais lama e hipocrisia do que imaginava.

Bom, acho que me resta voltar pra casa e ouvir cantar a voz doce de Dalva de Oliveira.
Nas imagens, campanhas recentes da luta contra a pedofilia.