O grão do desejo quando cresce
É arvoredo, floresce
Não tem serra que derrube
Não tem guerra que desmate
Ele pesa sobre a terra
Mais que a lei da gravidade
É arvoredo, floresce
Não tem serra que derrube
Não tem guerra que desmate
Ele pesa sobre a terra
Mais que a lei da gravidade
(Paulinho da Viola)
Desejo. Quando vem, vem com força. E quando esse desejo é de cunho sexual, a força é de tsunami, que vai engolindo tudo que vem pela frente. A psicologia comportamental assegura que sexo é uma necessidade (ou desejo) primário, como a alimentação. Ou seja, fazemos tudo para saciar nosso desejo sexual, da mesma forma que fazemos tudo para saciar a nossa fome.
Deve ser difícil a situação em que a pessoa, por algum motivo, não quer ou não pode saciar esse desejo. Nesses meus anos de experiência crossdresser, já conversei com algumas amigas que não lidavam bem com a prática crossdressing. Quando o desejo era saciado, sentiam-se mal, culpadas, prometiam nunca mais se “montar”, mas normalmente essa promessa não durava mais que uma semana. Atualmente minha única amiga cd me disse, com veemência, que não se montaria mais. Não sei exatamente qual foi o motivo que a levou a tomar essa decisão. Talvez alguma situação vexatória, o sentimento de culpa arraigado pela religião, ou talvez o (ex-)namorado não queira que ela se monte mais... enfim... O que vai definir isso é o grau de desejo e a identidade que ela tem. Há pessoas que simplesmente não conseguem ficar sem se montar, justamente porque isso faz parte de sua personalidade, de suas características, da forma de se apresentar e de significar o mundo. No entanto, há muitas outras que são cds só por conveniência, de acordo com as necessidades sexuais. Ou seja, se montam para procurar “machos”. Há muitos t-lovers que comentam que existem muitos homens que apenas colocam uma calcinha e se intitulam cds. Não vou aqui dizer quem é ou não é cd, mas quero constatar que o desejo de se vestir de mulher vai além da necessidade de se montar pra atrair homens (ou mulheres, no caso das cds heterossexuais).
Aliás, já que estamos falando de desejo, é importante enfatizar que nem todas as cds são homossexuais. O leque de cheiros e sabores é bem variado. Sem querer cair em rotulações vazias, vou tentar resumir aqui, vamos lá:
- Cds que gostam de homens. Nesse caso, a relação, digamos, equivale a um casal heterossexual. Eu disse equivale! Já que a cd faz o papel feminino e o homem (um tlover), o papel masculino. Porém, isso não quer dizer que o homem faça sempre o papel de ativo. Há muitas variações nisso. Há cds somente passivas, somente ativas e reflexivas (A e P), da mesma forma que existem homens que também são só ativos, ou só passivos, ou reflexivos. É a diversidade dentro da diversidade!
- Cds que gostam de cds e travestis. Há muitas cds q apenas se relacionam com outras cds ou travestis. São as denominadas cds lésbicas... risos...
- Cds que gostam de mulheres. São as cds heterossexuais. Algumas se montam na total clandestinidade, com medo de serem descobertas pela esposa, noiva ou namorada. E há também aquelas que têm a conivência da companheira e vivem muito bem com isso. As mulheres que gostam e apoiam as cds são chamadas de supportive opposite.
Isso é um resumo do resumo, porque a partir dessas 3 possibilidades, outras formas de relacionamento são críveis de acontecer. Há cds bissexuais. Há cds que curtem tudo: homem, mulher, cd, travesti etc. Enfim, o universo é super amplo e muito complexo (ainda bem!). Antes de vc, car@ leitor@, se perguntar em que “categoria” eu me incluo... caso vc tenha lido meus posts anteriores não é difícil de saber que sou uma cd que gosta, que sente desejo, por homens. Somente por homens! De cd, já basta eu! (kkkk).
Na verdade, o que vale é viver a sexualidade com responsabilidade e alegria. Se o objeto de seu desejo é uma pessoa (independente do sexo) adulta e viva, então, darling, “beije o desejo na boca, que o desejo é bom demais!”
Na foto, eu, na altura dos meus 1,68m (num vestidinho dourado) e minha amiga (ex-) cd Pietra. Essa foto foi tirada ano passado, em uma balada de Sampa.