Certamente quem é antenad@ e acompanha as notícias do dia-a-dia soube da “saída do armário” do cartunista Laerte. Ele, que é um profissional super conceituado, assumiu sua condição (se é que se pode falar assim) de crossdresser recentemente. Por se tratar de figura renomada, seu ato rendeu páginas e páginas de matérias, reportagens etc e tal. Muita gente o apoiou, muita gente o rechaçou.
Mas o que é interessante analisar é o fato de um homem público assumir essa condição abertamente, posar para fotos devidamente “montada”, como se ele estivesse escancarando para a sociedade seu estilo de vida. Tirando a prática crossdressing do domínio da clandestinidade e tornando-a visível, doa a quem doer. Aplaudo de pé a coragem e a determinação de Laerte. No mundo machista e homofóbico (sim, homofóbico!) em que vivemos, não deve ter sido fácil ele assumir essa condição para a sua família, amigos, enfim, a todos. Mas são justamente essas pessoas corajosas que abrem caminho para um mundo sem preconceitos e de mais respeito. Certamente, o fato de Laerte assumir ser cd, possibilitou que muita gente, de alguma forma, entrasse em contato com esse universo e tomasse conhecimento de que as fronteiras que separam ser homem de ser mulher são muito mais tênues e obtusas do que imagina nossa vã filosofia. Um homem heterossexual, casado, que tinha filho e tudo (seu filho foi morto ano passado, na cidade de Osasco, lembram?), já com seus quase 60 anos de vida, passa a usar roupas femininas. Corte de cabelo, meia calça, vestidos, sandálias. E não somente no refúgio do lar, mas em todas as suas práticas sociais!
É o ápice de uma vida que não deve nada a ninguém, que faz o que sente bem e que busca uma existência de sentidos para si mesmo. Em uma de suas declarações ele disse que não é homem, nem mulher. Então muitos perguntam: “ele é o que, afinal?”. E eu respondo (risos): a quem isso interessa? A sociedade nos obriga a fazer escolhas, a nos encaixotar, a nos rotular. Ou isso, ou aquilo. Ou verde ou amarelo. Ou palmeiras ou Corinthians. Ou branco ou negro. Ou hetero ou homo. Ou... ou... Sendo que na verdade somos muito mais complexos do que essas binaridades, do que esses caixotes que a sociedade tenta constantemente nos enclausurar. Somos tudo e mais um pouco. Parabéns, Laerte! Vc é uma PESSOA de atitude. Quisera eu ter a sua coragem. Estrelas como vc brilham na eternidade! Na foto, o cartunista Laerte após assumir ser crossdresser. Fonte da imagem: www.folha.com.br